domingo, 20 de maio de 2012

SEXO, DROGAS E ROCK'N ROLL


Na última noite na Associação Cristã de Moços, nos EUA chamada YMCA, Bino desceu as nove em ponto, de jeans, tênis e uma camisa pólo branca e contrastava muito com a sua pele queimada das estradas. Passara-se o tempo e nada do Steve.

Às dez e quinze da noite Bino subiu ao seu quarto, abriu um pouco a janela e como o Steve, acendeu um Winston e fumou devagar soprando a fumaça para fora do quarto. Já se preparava para dormir quando em frente do albergue parou o Fusca vermelho da Jo Ann, ela no volante. Steve abriu a porta do carona e gritou:

Brazilian, Brazilian, saia de sua toca que o mundo te espera!

Em seguida a Jo Ann deitou a mão na buzina rouca e fez um escarcéu no meio da confusão já existente na rua.

Bino desceu rápido, foi cumprimentado pelo Steve que já estava com uns drinks na cabeça e sentou-se no banco de trás, com uma moça amiga de Jo Ann, chamada Cindy. O carro arrancou rápido e Steve foi apresentando todo mundo:

Brazilian, aqui no volante esta a Jo Ann, minha noiva é a mais bonita mulher de Los Angeles.

– Olá, Jo Ann. Parabéns; eu creio que Steve está certo.

– Ah não comece você também com esta baboseira. O Steve fala isto de todas as namoradas.

– Do seu lado é a segunda mulher mais Bela de Los Angeles, a nossa querida Cindy.

Antes de o Bino abrir a boca a Cindy perguntou: – Você tem um nome?

– Sim tenho. Meu nome é Bino. Bino Tedesco.

– Suponho que você é do Brasil, não é mesmo?

– É do Rio?

– Não sou de lá. Nasci em Vitoria, a seiscentos quilômetros ao norte do Rio.

– Cindy roubou o cigarro acesso do Steve e perguntou:

– E o que faz você nesta merda aqui, disse ela e gesticulando com a mão as redondezas.

– É uma estória muito comprida e cansativa que não quero falar agora.

– Poxa, já começou com a santa inquisição, Cindy? – reclamou a Jo Ann.

– Cindy hoje é nossa noite de diversão – falou Steve: – Bob me disse que ele é gente boa e é refugiado político, e voltando-se ao Bino disse:

– Recebi uma grana boa e hoje é tudo na casa. Estou bancando.

– Não se preocupe Bino, disse Jo Ann, – Daqui a uma semana ele estará na merda de novo e os três deram gargalhadas e Bino não entendeu nada.

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Eles pararam no apartamento da Cindy e beberam vinho e comeram uns queijos e azeitonas de tira-gosto. Os três fumaram um pouco de maconha e riam como crianças, de tudo. Bino relaxou as guardas e bebeu mais vinho, sentado num sofá e ouvindo jazz do Stan Getz da Cindy. Jo Ann e Steve foram para o quarto da Cindy e antes de fechar a porta Cindy berrou para a amiga:

 – Não sujem o meu edredom, e os dois riram.

Cindy abriu a cortina de sacada e também a porta de vidro na frente do sofá. A noite era agradável, havia uma brisa suave e a vista de Hollywood iluminada a noite pareceu deslumbrante a Bino.

Ela sentou se do lado do Bino e disse:

– É bom ventilar um pouco este ar aqui. Vou trazer mais vinho para a gente; quer mais queijo, azeitonas ou amendoins? Coma pouco, pois ainda vamos jantar.

E conversaram muito. Ela não era da Califórnia, mas gostava de lá. Bino falou de sua vida, começando da Escola de Engenharia em diante. Cindy não entendia o que era uma ditadura e achou tudo um absurdo e se lamentou que um lugar tão idílico como o Brasil –que ela imaginava- pudesse estar infectado com esta praga.

Cindy reclamou que o seu Fiat Spider, um pequeno conversível vermelho de quatro cilindros estava na garagem do prédio com o motor quebrado e por isto ela estava no carro da Jo Ann. Disse que a Fiat tinha cobrado uma fortuna para por um novo motor e ela não sabia o que fazer. Bino lhe perguntou a descrição dos sintomas do motor do carro antes de parar e ela disse que não queria falar do assunto naquela noite e que de manhã ele poderia olhar o carro. Bino logo entendeu que não dormiria na rua...



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Os anos sessenta e setenta nos Estados Unidos, e, mormente na Califórnia eram tempos e dias loucos.

Era época de protesto contra a guerra no Vietnam, de distúrbios sociais; de demanda dos negros por sua integração social e protestando a segregação racial ateando fogo em Agosto de 1965 na Cidade de Watts, um gueto negro na Califórnia. Para dominar a revolta foram necessários quatorze mil Guardas Nacionais e mil e quinhentos policiais.

Depois, revolta e protestos pela morte do líder Dr. Martin Luther King em Abril de 1968; Em Nova Iorque, em Woodstock foi feito o “mais famoso evento na história do Rock and Roll” segundo o Rolling Stones, com a presença, do Grupo Graetful Dead,, Blood Swet and Tears, Joan Baez, Santana, Janis Joplin e muitos outros incendiando os espíritos da juventude com sentimentos de protesto contra a guerra do Vietnam. Lá entre a multidão de jovens contestando os valores, protestando a guerra e curtindo a vida deles, estava  a Gandira, a amiga do Bino.

Califórnia estava em pé de guerra. Havia uma subcultura de drogas e alienação a valores estabelecidos por parte dos hippies e também a antítese do movimento hippie que era a onda dos Krishina que buscavam a essência da vida por meio da espiritualidade, via hinduísmo. As drogas rolavam soltas, a juventude andava sem rumo. Religiões formais e estabelecidas e valores familiares eram contestadas criando-se um ambiente favorável a procriação de gente como Charles Manson e seus seguidores. A juventude andava perdida e mal encaminhada em muitas áreas.

As universidades fervilhavam com todos os tipos de protestos. Muitos campi se tornaram campo de batalha, como o da Universidade Estadual de Kent, no Ohio onde quatro estudantes foram mortos. Quatrocentas universidades e Colleges se fecharam em protesto. Nixon perdeu cinqüenta por cento de sua popularidade. Havia também uma guerra interna entre o governo aguerrido e uma juventude desiludida, rebelde e combativa que abominava a cultura alienada, materialista, engessada e suburbana que se criou na América depois II guerra.

Além dos protestos e movimentos nesses anos sessenta e setenta também havia violência nas ruas e vários grupos armados como o Symbionese Liberation Army e o Black Panthers declaravam guerra aberta ao status quo americano.

As anfetaminas, maconha e ácido, além de álcool, rolavam soltos e gangs de motociclistas como o Hell Angels e Mongols cuidavam em grande parte de sua distribuição e merchandising.  Até meados dos anos sessenta, o uso LSD não era criminalizado e seu uso era intenso nos anos setenta. O ácido Lisérgico  maciçamente fabricado em qualquer garagem ou fundo de quintal sem grandes problemas era distribuído à garotada. O Papa do Ácido, Dr.Timothy Leary, bem como o Poeta Allen Ginsberg apregoava a juventude, a beleza interior e expansão da mente e integração universal que diziam a droga produzir e entre os ícones  e usuários famosos estavam os Beatles e os Rolling Stones.

Para complicar ainda mais, a Guerra do Vietnam também contribuiu para o distúrbio social, especialmente durante a presidência de Richard Nixon: Para a guerra iam proporcionalmente mais negros e outras minorias, do que brancos. Para ser bucha de canhão não havia descriminação racial e ao contrário – percebiam os negros – havia até preferência a gente de cor. E novamente, os Negros se rebelavam também contra a guerra.

Mas uma coisa era comum a todos os soldados, independentemente de raça, a guerra os transformava: Ela retorcia estes adolescentes armados e os recambiava aos seus locais de origem transformados numa juventude violenta, desiludida, cínica e desnorteada - e mutilada física e mentalmente.

Muitos voltavam da guerra usando do haxixe a heroína - além de muletas e cadeiras de roda. A taxa de suicídio entre estes retorcidos era alta e também o índice de distúrbios mentais e violência. O Vietnam quase acabou com uma inteira geração de guris americanos que foram à luta.

Não era muito fácil ser “careta” nesse tempo na Califórnia. Como Gandira deveria dizer lá no Retiro Krishina de Ibiraçu, “são tempos de Kaliuga”, tempos de destruição.

E Bino se adaptou a esta Califórnia louca, livre, linda, violenta e desregrada: Ele e a Cindy conseguiam viver tranquilamente no meio dessa loucura, não exatamente como monges - mas também não como a garotada da pesada.

www.pt.wikipedia.org/wiki/Festival_de_Woodstock



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