domingo, 31 de julho de 2011

DEGUSTAÇÃO LITERÁRIA

TRECHO DO PAPA-BESOUROS – Bino Tedesco e os Krishnas DO CAPITULO: "O ENCONTRO COM O BICHO"
. ... (Bino) Esforçava-se por manter um passo firme no acostamento da estrada, desviando-se do fluxo dos faróis que vinham contra ele. Estava excessivamente cansado, exausto e com medo. Ele piscava os olhos quando faróis altos batiam em seu rosto. Procurava a todo instante visualizar as brilhantes luzes da Parada dos caminhões. Pensava nas luzes e um pouco mais adiante alcançaria o Abrigo de Néon. E ali ele estaria em segurança e protegido pelas luzes, imerso entre os odores do café expresso, do pão francês quentinho e do óleo diesel e da gasolina. Em minutos estaria fora da escuridão, sob o brilho colorido das luzes daquele posto moderno, conseguindo uma carona em direção ao Sul, para afastar-se, tanto quanto possível, de sua Vila, do seu feitiço, em busca de um futuro melhor e de uma vida nova, talvez até brilhante. Com seu corpo entorpecido e sua mente gaudéria ele fechou por um instante os olhos, mas levou um susto com o som de uma buzina e o ruído de pneus derrapando, acompanhado de uma explosão, seguindo-se um grande clarão.
* * * * * * O estrondo que ele ouviu o fez lembrar-se daquela horrível rajada de vapor da Maria Fumaça, que estava parada na estação de sua Vila. Ele imaginou então estar vendo o velho maquinista do trem, o Pedro Russo, morto e grisalho, vestido com um brilhante macacão branco. Ele tinha ficado quase que inteiramente branco; sua face não dava para se reconhecer, contudo Bino sabia que Pedro sorria para ele, e então Bino sentiu-se voando em câmara lenta: as árvores e as estrelas giravam e ele não sabia ao certo se estava vendo a Parada Califórnia de cabeça para baixo, ou se o fantasma do Pedro Russo estava de ponta-cabeça se estendendo para abraçá-lo. Tudo se aquietou e ficou em paz. À distância, ele viu seu corpo torcido como uma boneca de trapos descartada. Ele procurou então prestar atenção ao capim marrom e alto, bem perto de seus olhos, que apareciam e de repente sumiam. Então tudo ficou desfocado, depois se apagando até escurecer e depois veio o silêncio.
* * * * * *  Estava prestes a amanhecer quando dois jovens o encontraram ao lado do asfalto, estendido de costas sobre a lama, tendo seu braço direito dobrado por baixo do corpo, e sua perna esquerda dobrada para trás. Lentamente Bino foi abrindo os olhos e os viu através da cerração matinal. Um deles segurava, sobre o colo, a sua cabeça. Vestiam veste de cor amarela viva, usavam sandálias, e tinham uma bolsa de pano pendurada de lado, suspensa com um áspero cordel em volta do pescoço. Parecia um tipo de embornal grande e adornado. Bino pensou que eles eram estranhos anjos carecas, apesar da pequena trança de cabelo pendente da parte de trás da cabeça de cada um deles. Bino sentiu-se um tanto desconfortável com esses anjos e chegou a entrar em pânico com o pensamento de que havia “aterrissado” do lado errado da pós-vida, entre os pagãos, e apavorado pensou: “Me encontrei com o Bicho”, e atormentado perdeu a consciência. Assim que o encontraram à beira da BR-101, os Hare Krishnas samaritanos levaram Bino ao Posto de Saúde de Ibiraçu. Mas a enfermeira recusou-se a interná-lo. Além da água oxigenada, do mercurio-cromo e do álcool passados em seu corpo, e das ataduras colocadas, nada mais havia naquela modesta clínica da Vila que pudesse ser feito para o tratamento de seus ferimentos. A enfermeira, um tanto assustada com a condição dele, disse aos dois jovens que o levassem a Vitória, a capital do Estado, para que ele pudesse ser tratado. Um dos samaritanos, Braghavati, que anteriormente havia sido farmacêutico em Vitória, conhecia muito bem o sistema hospitalar do Estado: um paciente indigente, com ferimentos sérios, teria bem pouca chance, se é que teria alguma, de lá sobreviver. Além disso, o outro jovem, Vijay, que antes exercia a medicina, suspeitava que o rapaz estivesse com uma hemorragia interna, e assim não sobreviveria à espera de uma condução, da burocracia, a viagem e a uma longa espera na sala de emergência. Desse modo eles decidiram que o procedimento de menor risco seria levar o rapaz à Enfermaria que havia no Retiro dos Hare Krishna, por mais modesta que ela fosse, dos males seria o melhor. Eles poderiam monitorá-lo com respeito a possíveis hemorragias internas mantendo permanente controle dos seus sinais vitais e auscultando os sons de seus órgãos. Vijay, que antes era chamado de “Mestre do Estetoscópio”, implorou a Deus para que não houvesse sangramentos internos ou, pelo menos, que fossem de pequena gravidade, que pudesse ser tratado sem uma cirurgia interna, pois eles ainda não dispunham de instrumentos cirúrgicos. A Enfermaria deles, embora pequena, era bem equipada, e eles tinham como tratar dos braços e das pernas de Bino, e cuidar dos ferimentos externos, mas não tinham como operá-lo. A prece de Vijay foi respondida, e o tipo de sangue dele era A positivo – e ali muitos dos Hare Krishnas tinham o mesmo tipo sanguíneo. Bino urinou com traços de sangue por algum tempo e recebeu algumas poucas transfusões, feitas diretamente de braço a braço. Durante uma semana sua situação foi bastante crítica: ele entrava e saía do estado de coma várias vezes ao dia.
 * * * * * * Um incenso de doce aroma de jasmim lentamente o despertou. Bino nunca antes havia sentido o cheiro de um incenso, e também não tinha o mínimo conhecimento sobre os Hare Krishnas, exceto o que havia sido dito pelos sacerdotes aos paroquianos da sua igreja. Ele viu então um jovem, com um sorriso tranquilo, com as mãos justapostas e elevadas, como se estivesse rezando. Bino tentou erguerse, mas caiu de volta sobre a cama, exausto. O jovem gentilmente tocou em seu peito com a mão direita, acenando para ele que voltasse a descansar. Bino aquiesceu a esse gesto, e permaneceu imóvel, com o suor descendo por seu rosto e com o coração golpeando as suas têmporas. Ele sentia-se fraco, cansado demais para discutir, para fazer perguntas e até mesmo para continuar alarmado. O jovem colocou então o dedo indicador sobre a boca, cruzando os lábios, para que ele se calasse. Com um estetoscópio, passou a observar com muito cuidado as batidas do coração do rapaz e os sons de seu abdômen, em silêncio. Com muito cuidado ele ainda ajudou Bino sentar-se na cama e ouviu seus pulmões, pedindo-lhe que respirasse fundo e que tossisse. Com um olhar bondoso ajudou o rapaz a deitar-se novamente na cama e lhe disse:
– Você é um jovem bastante forte. Você vai ficar bom.
E apresentou-se como sendo Vijay.

sábado, 30 de julho de 2011

BIOGRAFIA DO AUTOR

BIOGRAFIA DO AUTOR - SAM DE MATTOS JR

Sou autor Capixaba, e moro nos EUA há 41 anos.  O PAPA BESOUROS é o meu primeiro livro, em português. Fui acadêmico de Engenharia na Escola de Minas de Ouro Preto, Vivia na Republica Pureza, que junto a Canaã, eram as Republicas de Estudantes mais engajadas contra a Ditadura.
Em 1970, tive que abandonar o Brasil às pressas. Não podia sair de avião. Então, com uma mochila nas costas, fui ate a Argentina, cruzei os Andes por Mendoza e cheguei a Chile. De lá pela Carreteira Pan Americana, um ano depois cheguei à Califórnia, onde me formei em “Creative Writting” e Jornalismo pela Universidade da Califórnia. E fui postergando a volta, nada se modificava politicamente no país, e então acabei por ficar aqui.
O PAPA BEZOURO relata a epopeia de Bino Tedesco, que sai de uma pequena cidade do interior do Espirito Santo e vai para São Paulo e de lá foge para a Califórnia para viver num pais em protesto contra a Guerra do Vietnam.  Guerra, movimento Hippie, Woodstock, drogas... E ele acaba indo para o Vietnam, e ai a sua vida se torna um inferno...
Foi penoso o trabalho, pois tive que reviver alguns momentos ( partes quase que autobiográficas) os quais não me importava muito revisitar. Também o livro foi feito entre dias de trabalho intenso, quando a indústria têxtil me permitia - e em alguns finais de semana. Bem, agora ele esta terminado.


No dia 9 de Abril de 2011, às 21 horasfoi o lançamento do meu livro O PAPA BESOUROS pela Redes Editora, www.redeseditora.com.br/loja/, Porto Alegre, 427 paginas) na PALAVRARIA, em Porto Alegre.
A Palavraria, cujo link é: http://palavraria.wordpress.com/ ,é um Lit-Point (Ponto Literário) notório por ser plataforma de lançamentos de muitos livros no Sul..

Para maiores contatos:Sam de Mattos Junior: papabesouro1@gmail.com
Roberta Martinewski-Livi (Agente Literária) -  roberta_livi@hotmail.com
Editora: redeseditora@redeseditora,com,br ( Att: Salete Moraes e Guacira Gil)
Agradecendo a comunidade literária capixaba e,
Semper fidelis,
Sam de Mattos, Jr.

COMPRAS http://www.livrariacultura.com.br/scripts/busca/busca.asp?palavra=O+Papa+Besouros&tipo_pesq=&tipo_pesq_new_value=false&tkn=0
Deixe-me recostar-me aos ombros sempre fortes da REPUBLICA PUREZA, cujas paredes são repositórios de muitos segredos e conchavos: Paredes que ouviram uma Nova Inconfidência nos anos setenta, para liberta o pais de uma tirania verde oliva.