terça-feira, 16 de agosto de 2011

Um simbolo de resistencia na ditadura militar

...Em menos de meia década aquela pequena comunidade em
Ibiraçu cresceria e se tornaria um grande complexo Zen Budista, com
muitas edificações e parques de meditação; tornar-se-ia uma respeitada
força religiosa naquela região, e estava organizada para prestar um trabalho
de natureza social e para a redenção da dignidade humana.
O zelo daquele pequeno número de adeptos faria com que se
reproduzissem, por todo o Brasil, muitos outros templos e retiros da linha
Zen Budista. Naqueles dias, porém, Hare Krishna era ainda um movimento
embrionário, que apelava aos jovens e aos que estavam em busca de
algo novo.
Os Krishnas, bem como os Hippies, se tornaram quase um símbolo
da resistência pacífica contra a ditadura militar e nos Estados Unidos
um protesto à Guerra do Vietnam - e em ambos os países uma forma de
protesto contra as religiões institucionalizadas e “donas da verdade”.
Naqueles dias de tribulação, o movimento Hare Krishna, silenciosamente
e com grande coragem, abraçou e protegeu muitos jovens que
eram fugitivos da perseguição política.
Muitos daqueles refugiados políticos trouxeram suas próprias
ideias religiosas e filosóficas ao Retiro. Algumas foram misturadas dentro
do caldeirão fervente dos exóticos rituais do Hare Krishna, e posteriormente
essa mistura se consolidou, numa forma Zen Budista de crenças.
Lentamente essa nova seita foi encontrando espaço entre os adeptos do
judaísmo, do cristianismo, do espiritismo, do xintoísmo, do islamismo e
das seitas afro-brasileiras.
Toda essa variada mistura teológica passou a coexistir
harmonicamente no acampamento: os religiosos cultuavam o Senhor
Krishina, mas com a liberdade alguns deles acrescentavam ao hinduísmo
alguns matizes de outras religiões ou mesmo de seitas exóticas.

* * * * * *

A difamação dos Hare Krishnas realizada por alguns sacerdotes
italianos de João Neiva fez com que Bino ficasse irado e decepcionado
com eles. Os Hare Krishnas eram pessoas boas. Tinham apenas um modo
diferente de cultuar seus muitos deuses, e a Bino, à primeira vista, parecia
que o Krishna era um deus peso-pesado, entre outros da mesma categoria,
e mais outros pesos-médios e leves. Sim, os Krishnas eram meio esquisitos,
sem dúvida, porém, não eram bárbaros, nem gastavam tempo depreciando
outras religiões.
Bino se viu enganado: ele havia confiado nas palavras dos padres
e chegara a se convencer que eles eram do mal e disfarçava o medo e a
ignorância deles com ódio. Nas férias passadas, com os gêmeos Fantini,
e outros rapazes de Ibiraçu e João Neiva, chegaram até cogitar a queima
do Retiro deles, por acreditarem serem soldados cristãos e se sentiam
importantes com este titulo. Por que razão os sacerdotes mentiram? Seriam
os padres ignorantes ou pior, eram maliciosos? Por que teriam mentido
para os paroquianos?
Talvez suas mentiras tenham sido trazidas pelo medo de perder
ainda mais os seus paroquianos, como já tinha ocorrido para os maçons
e para as congregações evangélicas que mais e mais se proliferavam.
Bino notou que os sacerdotes colocavam apelidos em todos os
que não jogavam em seus times: eles chamavam os maçons de “bodes” e
os batistas de “bíblias” e, quanto aos últimos, ponderou Bino, foram assim
apelidados, por andarem o tempo todo esquentando suas bíblias debaixo
de seus sovacos.
A experiência que Bino estava tendo com os Hare Krishna lhe fez
pensar muito – como nunca antes – sobre a intolerância entre as pessoas
e sobre o malévolo dogmatismo de muitas religiões.
Ele pôde ver que era vantajoso para os sacerdotes manterem os
habitantes da Vila tão ignorantes quanto possível. Nada de estudos bíblicos
como os bíblias, nada de leituras como os bodes, nada de um permanente
pensar, de ler, estudar e meditar como os Hare Krishna – e assim a
palavra obscura dos padres tornou-se lei.
Bino sentiu-se manipulado e ressentido; ele se lembrou que, quando
criança, ele e outros meninos foram incitados a urinar na Igreja Batista.
“Poxa, isto foi uma grande sacanagem”, pensou ele.
Sim à noite, antes dos cultos dos bíblias, Bino e a garotada urinavam
na frente e lado da igreja Batista e faziam com que o lugar ficasse
fedendo como mictório de estação de trem. Ignorados pelos bíblias, que
resignados punham-se a lavar as mijadas, eles começaram então a apdrejar
as janelas da Loja Maçônica.
  

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