terça-feira, 9 de agosto de 2011

BINO TEDESCO o personagem principal de O PAPA BESOUROS

QUEM É BINO TEDESCO? ONDE COMEÇA SUA AVENTURA?
Fica no ar se o autor falava de um personagem real ou ficticio uma vez que ao longo de toda narrativa as situações, personagens e locais tem fundamentação real. Verifiquem:

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Também Dom Genaro era Diretor Esportivo do time juvenil do Sul América, e
responsável por ter encontrado o Bino, um menino bem esperto, goleiro do
time de futebol da destilaria do Fantini, cuja atuação na trave do time oponente,
dava muito trabalho ao juvenil do Sul América; Dom Genaro convidou-o para
seu time e treinou-o como um dos melhores goleiros juvenis da região.
            Mais do que isto, havia uma cumplicidade maior entre os dois:
Bino pouco sabia sobre seu pai; aliás, Bino até o odiava. Este assunto
paterno era tabu para sua mãe Izabel, e o que ele conhecia bem era o
estigma da vila, que sempre mencionava ele como “Bino o filho do Padre”. 
            Mas Dom Genaro conheceu bem seu pai, Umberto Tedesco,
um padre Italiano que chegou a paróquia da Vila em experiência por
estar vacilando na fé. Em João Neiva, Padre Umberto se apaixonou
pela Izabel, retornou a Itália e morreu em Roma de tuberculose esperando
a aprovação do papel para se casar com ela e cuidar de seu filho.
            Esta verdade e o Sul América devolveram a auto-estima a
Bino, que agora era um atleta querido na cidade e visto como o
herdeiro natural de sua posição no time da primeira divisão. Desde
então, nas costas de seu uniforme negro seu nome era escrito
em amarelo: Tedesco.

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Dom Genaro era um homem de poucas palavras. Era alto, muito magro,
com um enorme bigode-de-guidão, e sempre usava um largo panamá
que sombreava seus penetrantes olhos azuis. Com o seu forte sotaque
italiano, ele educadamente saudou a todos com o chapéu, dizendo:
            – Senhores... –, e em seguida voltou-se para o prefeito e comentou:
– Então, senhor prefeito, hoje parece ser o grande dia de João Neiva!
– Parece que sim, Dom Genaro. Assim esperamos...
            Enquanto os adultos conversavam, os olhos acinzentados de
Pia discretamente encontraram-se com os de Bino. Depois de um
rápido devaneio, ele tirou seus olhos do olhar dela e olhou para a
estrada. Pia demonstrava um leve sorriso em seus lábios e Bino
estava enrubescido. Definitivamente eles se gostavam.
            Dom Genaro completou a sua breve conversa dizendo:
            – Tenho coisas importantes a entregar no hotel.
            E, despedindo-se com um aceno em seu chapéu, disse:
            – Uma boa tarde para vocês todos!
            Olhou então para Bino e acenou brevemente a cabeça.
Com um rápido toque de rédeas, sinalizou a Sansão para mover-se,
saiu em trote rápido para o hotel.
A multidão observava, e alguns saudosistas até ponderaram sobre a
cena do passado movendo-se bem defronte a seus olhos.

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Já há alguns anos a ferrovia principal desviava-se da Vila de João Neiva,
deixando assim de passar por ela todo o comboio que trazia minério de
ferro do interior de Minas para o porto de Vitória. Desde então a estação
de João Neiva tornara-se um ramal secundário daquela linha ferroviária,
e os passageiros do trem expresso, que para lá iam, tinham que fazer
baldeação na estação anterior de Caboclo Bernardo. E desta estação,
tomavam um trenzinho que fazia a conexão com João Neiva, percorrendo
uma distância aproximada de três quilômetros. Era um trecho de trilhos
desgastados, cheio de curvas, percorrido por um comboio de apenas
dois cambaleantes vagões de madeira, puxados por aquela velha
locomotiva a vapor, construída havia mais de cinqüenta anos na
Filadélfia, Estados Unidos.
            Tudo, porém, estava para mudar. O Departamento de Relações
Públicas da Estrada de Ferro havia informado ao povo da Vila com
bastante antecedência que, para cortar despesas, o velho trenzinho
de conexão seria substituído por um rápido ônibus, que proporcionaria
até mesmo mais conforto aos passageiros. E o tal ônibus já estava para
chegar: havia saído de São Paulo na noite anterior, e poderia chegar
a qualquer momento. O serviço de conexão feito com o ônibus deveria
iniciar-se no dia seguinte.
            O que os Joaoneivenses não sabiam, era que aquela esperada
chegada do “progresso”,  perversamente constituía apenas o início da
desativação de todas as atividades que a Vitória–Minas tinha em
João Neiva. Em sua Sede Administrativa, a desativação daquele
ramal era eufemisticamente referida como “Primeira Etapa”.
Depois de acabar com o dispendioso trem de conexão, a Segunda
Etapa viria dentro de seis meses: o encerramento das atividades
da Central de Manutenção de Locomotivas, que era a principal fonte
de empregos na Vila. Na Terceira Etapa, todas as atividades na
estação ferroviária da localidade seriam extintas: seu agente seria
aposentado, e também os funcionários do telégrafo, ajudantes, os
sinaleiros e o pessoal da manutenção da linha, após o que todas as
casas de propriedade da empresa seriam vendidas – casas essas
que no momento estavam alugadas aos empregados a preços simbólicos.
            A Quarta e última Etapa seria aquela que traria sobre a vila
um efeito ainda mais devastador. Seriam cortados todos os subsídios
que eram dados ao time de futebol que, naquela região, tinha a maior
torcida, e que mais título havia conquistado: o Sul América Futebol Clube:
paixão, orgulho e deleite de todo aquele povo de João Neiva.
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Conheça um pouco de João Neiva e sua ferrovia:


http://pt.wikipedia.org/wiki/Estrada_de_Ferro_Vit%C3%B3ria_a_Minas

Um comentário:

  1. Estou gostando muito do livro. O comprei logo após o lançamento e já estou na segunda leitura. É um livro que exige várias leituras pois é cheio de detalhes com fundamentos históricos. Este blog está me ajudando muito colocando informações adicionadas às postagens.

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